sábado, 14 de setembro de 2013

EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA: REPENSANDO O FAZER PEDAGÓGICO.

Educação a Distância:
Repensando o Fazer Pedagógico
A Educação a distância não é um processo novo,
existem exemplos de sua utilização desde o século XIX1
. O
grande desenvolvimento das tecnologias da informática e
comunicação, no entanto, alavancou novas ações e
discussões nesse campo. Infelizmente em nosso contexto,
essa modalidade de ensino tem sido discutida a partir de
argumentos que mais dizem respeito ao quantitativo e
estrutura física que ao desenvolvimento do processo
educativo como um todo.
Neves, apresenta algumas justificativas para a
expansão da educação a distância:
...ela amplia oportunidades onde os recursos
são escassos, permitindo uma educação mais
equitativa; familiariza o cidadão com
tecnologias que estão no seu cotidiano; dá
respostas flexíveis e personalizadas a uma
diversidade cada vez maior de tipos de
informação, educação e treinamento; e oferece
meios de atualizar rapidamente o
conhecimento técnico (1996:34).
Estes argumentos, justificam a grande importância
da EAD, mas por si só não garantem a qualidade dos seus
resultados, assumindo uma posição bastante instrumental
para resolução das enormes e diferentes necessidades de
formação, principalmente dos adultos, para a redução de
gastos e para disponibilização do conhecimento e saber a
quem desejar.
Embora a educação a distância não possa ser vista
como a solução para os problemas educacionais do mundo
contemporâneo, ela, com certeza, vem sendo recomendada
como forma de atendimento a um grande número de alunos
e por custo muito mais baixo do que o ensino presencial
(Souza, 1996).
A LDB 9394/962
, apresenta através do Art.80, o
compromisso do poder público com o desenvolvimento do
ensino a distância nos diferentes níveis e modalidades de
ensino, bem como na educação continuada, o que abre uma
perspectiva de atendimento a um grande número de pessoas,
além de atender às exigências de formação, por organismos
internacionais, como por exemplo o Banco Mundial, em
relação à capacitação de professores que deverá acontecer
de várias formas, inclusive à distância (Tommasi, 2000).
Tem-se dessa maneira através da EAD, ao menos
teoricamente, solucionado problemas de localização
geográfica que serve de empecilho a uma parte da população
que não dispõe de formas para concretizar o seu processo
de escolarização sem sair da sua cidade. A questão do tempo
é também praticamente diluída, já que os ensinantes e
aprendentes podem escolher os horários de estudo de acordo
com a sua disponibilidade. Teoricamente já são dois
problemas resolvidos, o onde e o quando, além da
possibilidade de aprender em ritmo próprio.
Toda essa facilidade, na prática, tem demonstrado
algumas contradições, como por exemplo à possibilidade do
aluno estabelecer um ritmo próprio de aprendizagem. A
maioria das experiências de que se tem notícia encontra-se
praticamente presa aos paradigmas instrucionais, com
enfoque unidirecional, com professores (tutores) distribuindo
de forma massiva informações a grandes grupos de pessoas.
Os programas de educação a distância têm demonstrado
pressa e superficialidade que em nada combinam com
processo de educação/formação de pessoas, ao menos do
ponto de vista da construção do conhecimento.
Conforme Neder esses programas
...denunciam uma visão de educação não
como processo, ou como prática social, mas
sim como um sistema – coisa – deslocado da
realidade sócioeconômico-cultural. É preciso,
antes de qualquer coisa esclarecer a
compreensão que temos sobre a educação,
sua dimensão político-social (2000:106).
É preciso situar a EAD no contexto de transformação
e desenvolvimento de tecnologias como TV/Vídeo,
computador, cd-rom, Internet, que vêm possibilitando, na
área da educação, novas compreensões de ensinar e
aprender, baseadas em recursos que ligam/conectam e
produzem relações entre sujeitos sociais, pelas redes de
informação que vão sendo constituídas e exigem grandes
transformações pedagógicas, com base numa concepção
de educação, como um processo com ênfase na
aprendizagem. Desvencilhar-se da abordagem pedagógica
tradicional, pautada na transmissão de conteúdos e
informações do professor para o aluno, no velho e conhecido
modelo de reprodução e partir para um novo ambiente
educacional onde a construção seja a base, através de uma
pedagogia ativa, criativa, dinâmica e acima de tudo aberta à
investigação e ao diálogo.
Esta perspectiva vem sendo tratada por Moraes:
... destacamos a importância de perceber que
a missão da escola mudou, que em vez de
atender a uma massa amorfa de alunos,
despersonalizados, é preciso focalizar o
indivíduo, aquele sujeito original, singular,
diferente e único, dotado de inteligências
múltiplas, que possui diferentes estilos de
aprendizagem e, consequentemente,
diferentes habilidades de resolver problemas.
Mas um “sujeito coletivo” , inserido numa
ecologia cognitiva da qual fazem parte outros
humanos, cujo pensamento é influenciado
pelas pessoas integrantes do ambiente, a
partir de uma relação contínua existente entre
o pensamento e o ambiente em geral, dois
aspectos inseparáveis de um único processo,
cuja análise em partes distintas não tem mais
sentido (1996:64).
Uma educação centrada no “sujeito coletivo” que
reconhece a importância do outro, a existência de processos
coletivos de construção do saber e a relevância de criar
ambientes de aprendizagem que favoreçam o
desenvolvimento do conhecimento interdisciplinar, da intuição
e da criatividade.
Dessa forma, pensar a EAD numa visão de
democratização do saber, do conhecimento, antes de
qualquer coisa, é pensar que
a demanda de formação não apenas conhece
um enorme crescimento quantitativo, ela sofre
também uma profunda mutação qualitativa no
sentido de uma necessidade crescente de
diversificação e de personalização. Os
indivíduos toleram cada vez menos seguir
cursos uniformes ou rígidos que não
correspondem a suas necessidades reais e à
especificidade de seu trajeto de vida
(Lèvy,1999:169)
Portanto, é necessário ir além da análise dos suportes
tecnológicos para desenvolvimento de cursos à distância, é
preciso ter em mente os sujeitos que serão formados por
esta modalidade de ensino, independente da tecnologia que
esteja mediando o processo (...) pois de nada adianta ter
milhares de recursos para a interatividade se não tenho
o sujeito dessa interação (Corrêa, 2001:24).
A resposta eficaz ao impacto da tecnologia em nossa
sociedade exigirá que a usemos para criar um novo meio de
aprendizagem que responda às necessidades dos cidadãos
em nossa sociedade culta.
A educação a distância só se concretiza com o
alcance de um verdadeiro processo de comunicação, através
de uma efetiva mediação pedagógica, que garanta a
superação da unidirecionalidade, a modificação da relação
emissão/recepção, gerando uma relação dialógica e
possibilitando a co-criação do conhecimento. Ultrapassando
o simples colocar de materiais instrucionais a disposição
do aluno distante, exigindo o atendimento pedagógico,
superador da distância e que promova a essencial
relação professor-aluno, por meios e estratégias
institucionalmente garantidos (Saraiva, 1996:30).
Frente à necessidade de recondução da EAD, um
caminho que se apresenta é o desenvolvimento de redes
colaborativas de aprendizagem que proporcionem práticas
educativas, que facilitem a diminuição das distâncias, não
apenas educacionais mas, sociais, culturais e econômicas.
Não será através de tecnologias com potencial de
interatividade sendo usadas apenas para a apresentação de
palestras aos estudantes em localidades distantes com nível
de interação zero, apenas distribuindo informações, que se
estará renovando o processo educativo, ou dando conta da
formação que a contemporaneidade exige.
De acordo com Lèvy, o fenômeno fundamental é o
da interconexão (entre pessoas, idéias, atividades,
instituições, etc.), e não do isolamento. O autor afirma ainda
(...) que a educação totalmente a distância não tem
futuro. Estou convencido de que o ser humano precisa
de contato físico com seus semelhantes (2001:28).
Em consonância com o que aponta Neder, nossas
reflexões têm que ser dirigidas, portanto, para a educação
em sua ampla acepção. Como a compreendemos? Onde a
situamos? Como analisamos suas relações? Qual o
significado do “ser a distância” ou do “ser presencial” no
interior de nossa compreensão? Que importância isso tem?
Por fim, a preocupação em desenvolver formas de
democratizar o saber a toda a população deve passar
também pela democratização do processo de escolha: entre
“presencial” ou a “distância”, ou até a forma híbrida, semi-presencial. Escolha que deve partir da análise das
necessidades dos sujeitos e das condições de aprendizagem.
Notas
1
 Para maiores detalhes desse histórico, pode-se consultar a Revista Em
Aberto. Educação a Distância. Brasília, ano 16, n. 70, abr/jun. 1996,
dentre outros textos.
2
BRASIL/MEC / Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília,
MEC, dez./1996.
Referências Bibliográficas
CORRÊA, Juliane. Devemos aplaudir a educação a distância? In: Revista
Pátio, ano V, nº 18, AGO/SET2001. p.21-24
LÈVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo:Ed 34, 1999.
___________ In: Revista Pátio, ano V, nº 18, AGO/SET 2001. p.28-31
LITWIN, EDITH, Das Tradições à Virtualidade.
In:LITWIN(ORG.)Educação a distância: temas para o debate de uma
nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001.
MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente:
implicações na formação do professor e nas práticas pedagógicas. In: Em
Aberto. Brasília, 16 (70), p. 57 - 69, 1996.
NEDER, Maria Lúcia C. A Orientação Acadêmica na educação a Distância:
a perspectiva de (re)significação do processo educacional. IN: PRETI,
Oreste(org). Educação a Distância: Construindo significados.
Cuiabá:NEAD/IE – UFMT; Brasília; Plano, 2000.
NEVES, Carmen Moreira de C. O Desafio Contemporâneo da Educação
a Distância. In: Em aberto, Brasília, ano 16, n.70, abr/jun 1996
SARAIVA, Terezinha. Educação a distância no Brasil: lições da história.
In: Em aberto, Brasília, ano 16, n.70, abr/jun 1996.
SOUZA, Eda Coutinho B.M. de. Panorama Internacional da Educação a
Distância. In: Em aberto, Brasília, ano 16, n.70, abr/jun 1996
TOMMASI. Lívia de WARDE, Jorge M HADDAD, Sérgio (Orgs). O
Banco Mundial e as Políticas Educacionais, 3 edição – São Paulo: Cortez,
2000.
Vânia Rita Valente (vrvalente@uol.com.br) é
mestranda em educação (UNEB), atua no NTE
– BA e professora da

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