domingo, 22 de setembro de 2013

A educação infantil e o papel do educador

Eliane Santos


A demanda de inclusão de crianças de 0 a 6 anos na vida escolar, tem crescido enormemente nos últimos anos. Quanto mais cresce a inserção feminina no mercado de trabalho, mais se torna necessária a ampliação das instituições infantis no país. Inclusão esta que fez com que as pesquisas cientificas em relação à infância se ampliasse e criasse, mais e mais, sustentação teórica para justificar a permanência da criança na escola e ampará-la por lei.
As pesquisas que envolvem o desenvolvimento humano, a formação da personalidade, a socialização, a construção da inteligência e as formas de aprendizagem nesta faixa etária, têm exigido um trabalho profissional, mais especializado e fundamentado e a atuação deste profissional da Educação Infantil, vem complementar o papel da família, percebe-se então sua enorme importância na formação dos pequeninos.
As práticas dos profissionais da infância, aliadas às constantes pesquisas e teorias, contribuem para um trabalho de qualidade, construindo um conjunto de experiências que levam a efeito a base do projeto pedagógico que atenda à formação humana nessa fase da vida.
Embora a Educação Infantil tenha mais de um século de história, somente nos últimos anos, foi reconhecida como direito da criança, dever do Estado e como primeiro estágio da educação básica. As formas de se conceber a criança, vem aos poucos mudando e se concretizando, atualmente a visão que se tem de criança é de que este ser é capaz de criar, de modificar e de construir o seu próprio saber, de estabelecer múltiplas relações, sendo ele produtor da cultura na qual está inserido, um ser sócio-histórico, atuante.
Por isso, uma nova ação para o trabalho junto à infância se faz necessária, ação essa que prioriza dois aspectos: o cuidar e o educar. Com isso o trabalho pedagógico visa atender as necessidades que a faixa etária exige e determina que a criança hoje precise ser "preparada para" e não apenas ser um "vir a ser". Entra ai, como dito antes, o profissional qualificado e imbuído de experiências a serem compartilhadas, e quando essa experiência ainda não existe, mas somente a teoria que o qualifica, o desejo e a humildade em aprender com o outro é fundamental.
A criança de 0 a 6 anos, tem uma curiosidade nata, é investigativa, exploradora, aventureira, muitas vezes parece impertinente, por estar sempre questionando e querendo saber o porque de tudo que a rodeia. Possui conhecimentos acumulados através de diferentes experiências que vivência em seu cotidiano, através da sua relação com o outro e com o objeto e isso é claro, pertinente a cada faixa etária.
Com isto, a criança constrói sua identidade, na exploração do meio em que vive, na construção dos relacionamentos entre adultos e crianças e na obtenção dos conhecimentos e valores a ela ensinados, nas brincadeiras, que são o canal mais forte de suas construções, de suas interações e de seus relacionamentos. Ao conceber a criança, como ser ativo e possuidor de conhecimentos prévios, é papel do educador ponderá-los, sistematizá-los e expândi-los.
Sendo assim, é de primordial importância que o educador crie situações de aquisição do conhecimento para suas crianças, ou seja, oportunidades de contatos com todos os meios possíveis ao aprendizado. Cabe ao adulto, organizar o espaço físico, os materiais concretos a serem manipulados e explorados, os momentos de trocas orais constantes com crianças da mesma e de diferentes faixas etárias e com adultos, para que assim ocorra as trocas afetivas, os enfrentamentos e a resolução de problemas, percebendo assim, como a criança lida com situações de conflitos, desafios e frustrações.
Observar, avaliar e refletir, são instrumentos importantes para a elaboração de um planejamento concreto e cheio de opções a serem trabalhadas, esta é a grande sacada da educação em si, observar, avaliar, refletir para modificar e melhorar e isto é papel do educador.
No contexto escolar, a educação infantil, pressupõe a existência de uma proposta pedagógica sistematizada, que tenha como o eixo o brincar, sendo assim, o educador é o mediador na construção do conhecimento de forma critica e criativa que vão além dos cuidados assistencialistas da saúde, alimentação e proteção do infanto.
Vejamos na visão do grande Rubem Alves o papel dos educadores:
"O estudo da gramática não faz poetas.
O estudo da harmonia não faz compositores.
O estudo da psicologia não faz pessoas equilibradas.
O estudo das "ciências da educação" não faz educadores.
Educadores não podem ser produzidos. Educadores nascem.
O que se pode fazer é ajudá-los a nascer.
Para isso eu falo e escrevo:
para que eles tenham coragem de nascer.
Quero educar os educadores. E isso me dá grande prazer
porque não existe coisa mais importante que educar.
Pela educação o indivíduo se torna mais apto para viver:
aprende a pensar e a resolver problemas práticos da vida.
Pela educação ele se torna mais sensível e mais
rico interiormente,
o que faz dele uma pessoa mais bonita, mais feliz
e mais capaz de conviver com os outros.
O EDUCADOR
RUBEM ALVES
Mas mesmo com um papel tão essencial à sociedade, é impressionante a tamanha desvalorização que este profissional sofre, sim, o Educador Infantil, por mais essencial que seja, é imensamente desvalorizado em seu contexto geral.
Vocês já pararam para pensar, que as crianças da educação infantil, ficam mais tempo com os educadores do que com a própria família? A escola de educação infantil recebe a criança às 7hs da manhã e permanece com a maioria delas até às 17:25min, isso dá uma carga horária de exatamente: 10h25min por dia e por semana equivale a mais ou menos 50hs, enquanto que com os pais e/ou responsáveis essa criança deva ficar por semana, acordada, dormindo não vale, umas 22hs apenas.
Percebam o papel do educador na vida de cada uma dessas crianças. Imaginem que além de cuidar, amar, respeitar, ele precisa educar, educação esta, que vai além daquela que os próprios pais são responsáveis, pois também educam para vida, ensinam valores, conteúdos, cultura e promovem o lazer. São palhaços, bruxas, fadas, coelhinhos da páscoa, papai Noel e inúmeros outros personagens que fantasiam o mundo infantil.
E tudo isto para que haja a promoção humana de qualidade. Substituem por muitas vezes, o papel dos pais, ensinam, compartilham momentos únicos, corrigem atos falhos, são o exemplo, trocam carinhos, promovem o aconchego, percebem o estado físico e emocional de cada um, sabem quando o "Luiz" não está legal hoje, está muito quietinho, deve estar doente, ou aconteceu algo em casa, tem a percepção aguçada pela vivência e experiência que esta lhe acarreta.
São educadores, pais, mães, enfermeiros, psicólogos, terapeutas, são um misto de papeis na vida de cada aluno e mesmo assim, tão desvalorizados. Hoje, a maioria, já possuem uma formação superior, até mesmo especialização, mestrado,... e ainda são tratados com indiferença por muitos. O Educador Infantil envolve a criança na mais completa forma de aprendizado, levando a cada um o estimulo adequado, respeitando cada faixa etária, promovendo a afetividade que é de suma importância para cognição em si, respeitando o tempo e as limitações de cada um.
Este profissional recebe a cada manhã uma profusão de olhares atentos de seus pequeninos, na ânsia pelos carinhos, aconchegos, brincadeiras e atenção. São inundados pelos mais ternos e meigos gestos do infante em sua inocência, precisa estar pronto para acalentar e transmitir confiança e segurança, precisa estar pronto a amar e a receber muito amor, a ser tolerante e paciente, com os alunos e com os pais dos mesmos. Precisa ser educado, recatado, ético e muito profissional, mas sem deixar de ser humano acima de tudo, pois só quem é humano, entende o lado humano de cada um.
É sem duvida um profissional excepcional, mas muitos estão desistindo desta carreira linda, por falta de valorização, reconhecimento e respeito, por parte de uma sociedade seletiva, que atribui ao cargo um sentimento de "ah, educador infantil, que coisa heim?" como se fosse uma função desmerecida e sem importância. Triste e repugnante, tais posturas.
Sem abandonar a responsabilidade de ensinar, o educador infantil consegue recobrir de momentos maravilhosos a aprendizagem provando que conhecimento e afeto não se excluem, mas se completam. Sem vínculos afetivos a aprendizagem significativa não se constrói. Então, a quem posso chamar educador?
Não só posso, mas devo chamar educador, àqueles que enfrentam bem as circunstâncias com que se deparam no dia-a-dia, àqueles que são honrados em suas relações com seus infantes e com todos à sua volta, suportando com paciência e bom humor aquilo os obstáculos da rotina escolar.
Àqueles que se fazem humanamente possíveis no trato com os companheiros, tornando a convivência algo agradável e especial. Àqueles que têm seus prazeres sob controle e não terminam abatidos por suas infelicidades, mas se erguem com coragem e lutam por dias melhores. Aqueles que não fogem do seu próprio eu, mas se mantêm firmes, como pessoas de sabedoria e sobriedade, já diria Sócrates.
A motivação maior para ser educadora infantil, deve ser o amor às crianças e querer tê-las como companheiras, resgatar o ideal de transformar o mundo por meio delas. Ser educador é uma das profissões mais bonitas, pois nela nos envolvemos com o outro e juntos compartilhamos saberes e práticas que nem a morte é capaz de apagar.
A sociedade precisa de todos os educadores, para despertar nos alunos a compreensão que pode gerar a verdadeira paz e justiça entre os homens e isso, começa na educação infantil, pois esta une cuidados e conteúdos, oferece afeto e Educação desde os primeiros anos de vida, é sublime e única. Ser educador Infantil é ser então o semeador de frutos que só serão colhidos por outros, por conseguinte é profissão plena e ilustre, que merece toda valorização merecida, afinal ser educador é ser arquiteto e construtor de personalidades, intelectos e emoções.




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